Este estudo insere-se no contexto das investigações que procuram utilizar conceitos sociológicos mais amplos como subsídio à compreensão de questões do campo da formação de professores. Nosso objetivo foi compreender como o professor universitário aprende a ensinar, os saberes e estratégias que constrói, tendo por categoria epistemológica interpretativa a socialização profissional. No desenvolvimento do estudo apoiamo-nos nas narrativas de oito professores da UFV/MG, sobre a história de vida profissional. A entrevista foi o instrumento utilizado na interlocução com os sujeitos. As análises foram articuladas em torno de três eixos - a formação, atuação e socialização profissional - por meio dos quais exploramos conhecimentos e aprendizagens sobre o ensinar. Ao estudar “como o professor aprende a ensinar” vimos que os
processos de aprendizagem da docência e de socialização profissional são ainda pouco explorados quando se considera o ensino superior. Em termos de políticas públicas e da instituição de atuação, o desenvolvimento profissional do professor aparece como espaços de autonomia. O
professor universitário aprende a ensinar, na maioria das vezes, na prática, utilizando os
referenciais aprendidos na formação específica e na pós-graduação. A opção pelo magistério, no
caso de alguns participantes da pesquisa, ocorreu porque a formação do pesquisador, no Brasil,
acaba por direcionar o profissional para a universidade, onde ele irá se dedicar à pesquisa e,
também, ao ensino e à extensão, se a Universidade se orientar pelo “modelo único” de instituição
universitária. Entretanto, isso não nega a afinidade de muitos desses profissionais com a
área de ensino. O professor do ensino superior, quando inicia a docência, também, sofre o
impacto da relação com a cultura institucional. Em sua trajetória de atuação profissional, vai
aprendendo a ensinar reproduzindo estratégias e práticas de seus antigos professores, mas busca, também, dar sua identidade à prática; na maioria das vezes, aprende o funcionamento da instituição solitariamente. A identidade profissional do professor universitário vai-se formando,
inicialmente, por um ato de atribuição e de reconhecimento de seu papel, pela comunidade
universitária e local e, posteriormente, por um ato de pertença, quando o professor já compreende a instituição, suas normas de funcionamento e se encontra socializado na profissão e na instituição. Por mais que a universidade esteja em processo contínuo de sucateamento, os professores investem e acreditam nela; acham que este ainda é um lugar de se trabalhar; que se tem reconhecimento, por parte de alunos, dos pares, e mesmo da comunidade local. O que se aponta, neste estudo: a necessidade de investimento no ensinar, por parte do professor universitário, tanto em termos de pesquisa e produções, quanto na criação de espaços em que o pesquisador-professor, se valendo da relativa autonomia que possui, possa estabelecer uma interlocução, mais cotidiana, com seus pares, sobre seus saberes, estratégias e embates na prática de ensino. Possivelmente, as tecnologias de informação e comunicação possam
representar um dos recursos a ser utilizado no diálogo sobre o ensinar, sem que isto possa representar mais uma atribuição burocrática e corrobore a intensificação do trabalho docente.
Alvanize Valente Fernandes Ferenc Tese (Doutorado), 2005 Programa de Pós-graduação em Educação
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos
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